Acidentes financeiros causam acidentes no trabalho. Como se precaver?
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  • Foto do escritorSilvio Bianchi

Acidentes financeiros causam acidentes no trabalho. Como se precaver?

Atualizado: 4 de abr. de 2023

A facilidade de crédito, a propaganda, o imediatismo e a falta de educação financeira, dentre outros, elevaram o nível de endividamento das pessoas. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) de julho/22[1], mostra aos principais vilões:

  • Para 85,3% das famílias, o vilão do endividamento é: Cartão de crédito

  • Para 18,8% das famílias, o vilão do endividamento é: Carnês / Crediários

  • Para 10,6% das famílias, o vilão do endividamento é: Financiamento de carro

  • Para 9,2% das famílias, o vilão do endividamento é: Crédito pessoal

  • Para 7,6% das famílias, o vilão do endividamento é: Financiamento de casa

  • Para 5,3% das famílias, o vilão do endividamento é: Cheque especial

  • Para 5,2% das famílias, o vilão do endividamento é: Crédito consignado




A história de Marcela[2]

Marcela (nome fictício) tem 24 anos e mora junto com a irmã, Claudia (nome fictício), na cidade onde trabalha. Elas dividem as despesas de moradia e alimentação.


Marcela se formou e conseguiu um emprego na sua área, com um salário líquido de R$2.800,00. Após assinar o contrato de trabalho, a empresa fez seu cadastro no banco onde seria depositado seu salário. Finalizado o processo, o banco abriu sua conta corrente e ela recebeu um cartão múltiplo (débito e crédito) junto com um limite de crédito generoso no cheque especial. O total de crédito disponibilizado pelo banco (limite do cartão de crédito mais o do cheque especial) representava 2 (duas) vezes seu salário líquido.


Sem nenhuma educação financeira e morando longe da família, timidamente, no início, Marcela começou a usar o cartão de crédito, a pagar usando débito e... a parcelar compras no cartão. Ela achou fantástico!


O cartão se transformou numa “lâmpada de Aladdin”! Ela desejava, passava o cartão e... puff!... seu desejo virava realidade! Roupas, sapatos, bolsas, baladas, comidas fora de casa, tudo conseguia!


Porém, a felicidade tinha limite: o limite de crédito no cartão! Ao estourar esse limite, ela foi falar com a gerente da sua conta quem, muito solícita, falou: “- Eu vou te ajudar! Vamos fazer um empréstimo consignado pelo valor da dívida do cartão, você parcela em valores pequenos e zeramos teu cartão. E... para te ajudar ainda mais, vou aumentar teu limite de crédito no cartão!”


Feliz por ter resolvido a situação tão rápido, continuou no mesmo ritmo de consumo. A festa continuou até estourar o limite do cartão pela segunda vez. Voltou a falar com a gerente e ela, muito disposta a resolver a situação da Marcela, lhe ofereceu um empréstimo pessoal “com taxa de juros baixa e parcelas a perder de vista. E... para te ajudar ainda mais, vou aumentar mais uma vez teu limite no cartão!”. O limite de crédito no seu cartão representava 4 (quatro) vezes seu salário líquido. Marcela estava no paraíso!


Porém, quando estourou o limite do cartão pela terceira vez, as coisas não foram tão boas. A gerente falou para ela: “- Não tenho nada a fazer para te ajudar, pois você virou cliente de risco para o banco. Está no limite do consignado, ainda não pode renovar, e tem empréstimo pessoal. Agora você vai ter que pagar e aguardar a liberar teus limites de crédito!”. Marcela estava na porta do inferno!


Para conseguir pagar algumas parcelas e bancar suas despesas básicas, começou a usar o limite do cheque especial, que usou até o limite máximo. Nesse momento, parou de pagar a fatura completa do cartão e a bola de neve dos juros rolou mais rápido.


Em pouco tempo, sua dívida com o banco alcançou os R$60.000,00, seu salário líquido continuava nos R$2.800,00, e o banco descontava R$1.700,00 diretamente da sua conta na hora do salário ser depositado.


No início da primeira sessão de coaching financeiro Marcela falou o seguinte: “- Não sei como fazer para resolver esta situação, só fugindo do país...”.


O que aconteceu com Marcela?

Jovem, feliz por ter seu primeiro emprego com um salário bom e sem nenhuma educação financeira, ela foi mais uma vítima da “miragem do crédito”. Transformou seu cartão na lâmpada de Aladdin e utilizou o crédito como combustível para iluminar seus desejos.


Ela não estava preparada para usar o crédito e caiu em todas suas armadilhas (até nas armadilhas do banco!).


Acidente$ financeiro$ e acidentes no trabalho

Marcela trabalhava cuidando de atividades administrativas que exigiam muita atenção e ela, no início, se destacou por ser infalível. Mas, com o passar do tempo, seu desempenho foi decaindo.


Na medida em que suas dívidas iam aumentando, sua concentração foi diminuindo e os erros ficaram mais evidentes. Finalmente, o supervisor a chamou para conversar.


O que a empresa fez para ajudar Marcela?

Ciente da situação, a empresa a aconselhou consultar um profissional da área de planejamento financeiro. O objetivo final era que ela resolvesse essa situação, recuperasse o autocontrole e voltasse aos bons níveis de desempenho que a caracterizavam.


Marcela fez um processo de coaching financeiro, planejou seus objetivos, renegociou suas dívidas com o banco, começou a pagar as parcelas e, principalmente, se educou financeiramente e incorporou hábitos de consumo que a mantiveram longe do consumo por impulso, do descontrole e do endividamento. Ela melhorou seu bem-estar financeiro!


Como a empresa evitou casos similares?

A situação da Marcela não foi a única, mas foi o primeiro caso. Em vez de considerá-lo como uma exceção, o RH da empresa sugeriu conhecer melhor os desafios financeiros de todos os colaboradores.


Através de uma pesquisa anônima de bem-estar financeiro, confirmaram as suspeitas de que as renovações dos empréstimos consignados, pedidos de adiantamento de férias e vales, dentre outros, não eram situações isoladas, mas que eram sintomas de um problema maior.


Ao longo dos seguintes anos, o RH da organização disponibilizou para seus colaboradores palestras de educação financeira e plantões de atendimento. As melhorias começaram a ser percebidas já no final do primeiro ano.


Marcela precisou de 5 anos para resolver seu endividamento. No dia seguinte a pagar sua última parcela, ela nos escreveu: “Ontem paguei minha última parcela da dívida! Estou muito feliz, porque agora cuido muito mais do meu dinheiro e penso duas vezes antes de gastar. Sou uma mulher nova! Muito obrigada!” (sic).


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Silvio Bianchi é Contador Público, Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Master Coach, Coach Executivo e de Carreira, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de Bem Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, é responsável pelo escritório em São José dos Campos (SP).


[2] História real de uma cliente atendida. Os nomes foram trocados para manter o sigilo.

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