A maioria das pessoas deixa passar bastante tempo antes de realizar uma consulta financeira que sabe é necessária. Por que demoram tanto?
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Nossa experiência como educadores financeiros, assessores financeiros e coaches financeiros (estou falando de mais de 12 anos) mostra que as pessoas, apesar de estarem cientes da necessidade de resolver uma situação de endividamento, organização do orçamento, analise de um financiamento, renegociação de dívidas etc., se resistem a consultar.
Parece ser que, assim como acontece com certas consultas médicas, “deixar passar um tempo, para ver se a situação se resolve sozinha”, “deixar para depois, pois sou otimista e o futuro será melhor”, “agora não, pois estou com muitas coisas para resolver” ou “vou me fazer de um tempinho, pesquiso na internet e resolvo” vão dar conta do recado.
Também existe o argumento, em princípio válido, de que não existe dinheiro disponível para pagar essa consulta.
A história de Maria Luiza (nome fictício)
Maria Luiza trabalha como assistente administrativo numa empresa, com um salário líquido de R$2.600,00 mais o VR/VA (Vale Refeição/Alimentação) de R$750,00. Total de rendimentos líquidos: R$3.350,00.
Ela paga R$1.650,00 por mês de parcelas de financiamento (casa e carro) e suas despesas básicas (moradia, alimentação, saúde, educação, transporte, farmácia) somam R$1.300,00.
Maria Luiza gosta muito de sair com as amigas e, para ficar à par delas, sempre está comprando uma roupa, sapatos ou bijou. Todas essas despesas são pagas no cartão de crédito, “parcelando sempre que for possível”.
Ela perdeu o controle do cartão e “precisou renegociar a fatura” fazendo um empréstimo consignado de R$250,00 (15 parcelas). O gerente do banco, para ajudá-la, elevou o limite do seu cartão de crédito.
Consequência da última elevação do limite de crédito do cartão, ela “estourou o cartão” novamente e fez um novo consignado de R$200,00 (25 parcelas). Como já não podia fazer frente às suas despesas básicas, decidiu utilizar o saldo do cheque especial. Também, precisou parcelar as faturas do cartão.
A bola de neve do endividamento e dos juros estava crescendo rapidamente e o salário não era suficiente para pagar todo. Finalmente, decidiu fazer uma consulta com um profissional que a ajudasse a organizar suas contas e a renegociar suas dívidas.
Neste caso, ela poderia ter feito a consulta muito antes e sem custo, porque a empresa disponibiliza esse benefício para ela.
Por que Maria Luiza demorou tanto para consultar?
Adiou a dor. Fazer a consulta financeira causa dor, porque implica reconhecer que a gestão das suas finanças não era correta.
Primeiro, procurou “anestésicos”. Quando temos uma dor física, geralmente, antes de consultar um médico, procuramos alguns remédios que diminuem a dor por certo tempo “para ver se passa”. No caso das finanças, as pessoas recorrem ao crédito com poucas travas (crédito fácil), como o cheque especial, parcelamento da fatura do cartão ou empréstimos com familiares e amigos. Também recorrem aos “empréstimos sem consulta com o Serasa/SPC”.
Finalmente, consultou um profissional. Após verificar que o problema não se resolveria sozinho e que a situação era insustentável, decide consultar um profissional.
Sinais que mostram a necessidade de pedir ajuda.
Não fazer um planejamento financeiro. Muitos argumentam que fazer um planejamento financeiro é muito difícil e que é só para profissionais. Não é assim! Coloque numa folha de papel: quanto recebe líquido (após os descontos), desconte as parcelas de financiamentos, a fatura do cartão e as despesas mensais. O resultado é negativo ou quase zero? É um sinal!
Quase todos os meses usa o saldo do cheque especial. Esse saldo é disponibilizado pelo banco para cobrir uma necessidade eventual de dinheiro e de curtíssimo prazo. Usar o limite do cheque especial com frequência... é um sinal!
Precisou parcelar a fatura do cartão. Quase sempre, o limite do cartão de crédito ultrapassa seus rendimentos líquidos. Isso significa que, se não se cuidar, gastará mais do que pode pagar. A necessidade de parcelar a fatura do cartão de crédito... é um sinal!
Os descontos do banco consomem grande parte do salário. Além de mostrar a necessidade de revisar seus financiamentos, também é um sinal de que precisa de auxílio profissional.
“Sobra mês para meu salário”. É um comentário muito comum que, muitas vezes, até é considerado engraçado. Geralmente, esta situação é “resolvida” usando o cheque especial. Se isso estiver acontecendo, é um sinal de que precisa de auxílio profissional.
Aguardar para ver se “passando um tempinho, a coisa melhora” é uma prática muito comum que somente deixa para depois o que já deveria ter sido feito. Considere esta matéria como mais um alerta. Ficar atento aos sinais de descontrole financeiro é a melhor forma de evitar noites de insônia, estresse, problemas com sua saúde e dificuldades no seu relacionamento com familiares e colegas.
Seu bem-estar financeiro é o nosso plano!
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Silvio Bianchi é Contador Público, Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Master Coach, Coach Executivo e de Carreira, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de Bem Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, é responsável pelo escritório em São José dos Campos (SP).
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