Por Silvio Bianchi

A pesquisa mensal de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio, mostra que 84,4% das dívidas das famílias é consequência da utilização do cartão de crédito (um pouco mais de 8 de cada 10 famílias brasileiras).
O cartão de crédito é uma ferramenta útil para efetuar pagamentos, porém, como toda ferramenta, é importante ler o manual antes de usar. Manual do cartão de crédito? Existe isso? Pois bem, vamos lá a ler esse manual!
As promessas do emissor do cartão.
Você recebe o cartão com uma carta bem bonita falando maravilhas da ferramenta:
Facilita você realizar seus sonhos;
Pode comprar com mais segurança;
Pode utilizar dentro do território nacional e, muitos deles, também no exterior;
Ganha benefícios tais como: pontos, milhas ou cashback.
Também recebe aquelas informações “importantes”:
Tem limite de crédito;
O limite de crédito não tem custo;
Aproveite e utilize seu limite até o dia XX, melhor data de compra (“40 dias para pagar...”);
“Não se preocupe! Se não conseguir pagar a fatura completa, pode parcelar!”.
E isso leva você a acreditar que:
O limite de crédito é uma autorização para gastar. Muito cuidado com essa crença! Para a financeira que emite o cartão de crédito no seu nome, o limite de crédito é o equivalente em dinheiro do risco que está disposta a correr se você não pagar. Porém, esse valor pode ultrapassar várias vezes seu rendimento mensal líquido! Portanto, se utilizar todo o limite de crédito, gastará mais do que recebe!
O limite de crédito é “dinheiro na mão”. Essa é a maior mentira que os vendedores falam. Limite de crédito é dinheiro, que não é seu, na sua mão. Portanto, se usar esse dinheiro, você terá que devolvê-lo com acréscimo de juros!
O convite para “pecar” (gastar por impulso) foi feito!
Nosso cérebro, a “dor do pagamento” e o cartão de crédito.
O maior desafio para utilizar o cartão de crédito se chama autocontrole. Por que resulta tão difícil controlar seu uso? Vamos entender um pouco mais como nosso cérebro interpreta o uso do cartão.
Pesquisas mostraram que, quando pagamos em espécie (abrimos a carteira, tiramos uma nota e a entregamos), no cérebro se ativa a mesma região cerebral que quando sofremos uma dor física. Ou seja, para o cérebro, “abrir mão de dinheiro” equivale a se espetar uma mão ou sofrer qualquer dor física. Isso se chama: “dor do pagamento”.
Quando pagamos usando o cartão de crédito, essa “dor do pagamento” não acontece. Por que não acontece? Porque, para o cérebro, passar o cartão, aproximar o cartão ou digitar a senha, não é pagar, já que não está “abrindo mão” de dinheiro físico. Portanto, o cartão de crédito é o anestésico da dor do pagamento. De fato, é um anestésico “tarja preta”, pois cria dependência. Resulta fantástico comprar sem sofrer!
O que acontece quando se paga utilizando o cartão de crédito?
Facilita a decisão de compra. Como não tem que abrir a carteira e ver as notas sair, não precisa pensar se esse dinheiro poderia ser necessário para despesas básicas ou mais importantes.
Separa o momento de compra do momento de pagamento. Passa o cartão, recebe o bem ou serviço e deixa o pagamento para depois.
Para o cérebro, esse “depois” (o futuro) é difuso, distante e sem vínculo afetivo. As compras pagas com o cartão caem em um “buraco negro” (desfruta o comprar agora e deixa o pagar para depois).
Para reduzir o sofrimento, muitas compras são esquecidas. Ao verificar o extrato da fatura do cartão de crédito, quantas vezes não reconheceu uma compra que você realmente fez?
Facilita a compra por impulso. “Eu quero”, “Eu quero, já” e “Eu mereço”, são os três pilares do consumo atual. Imagine satisfazer seu desejo sem sofrer! Por que parar para pensar?
Como usar o cartão de crédito e não se endividar.
Planeje suas compras. Independente de como irá pagar, é muito importante planejar as compras com antecedência. Divida suas compras em 3 categorias:
Compras básicas: moradia, alimentação (mercado), transporte, saúde e educação.
Compras para conforto (supérfluas): guloseimas e lanches, lazer, presentes, viagens.
Compras emergenciais: para este item está a reserva emergencial.
Questione-se: quero ou preciso? Se precisa, deve ser uma compra básica. Se quer, provavelmente, será uma compra para conforto.
Evite parcelar as compras. Lembra do “buraco negro” das parcelas? É uma das armadilhas para perder o controle das contas.
De todas formas, vai parcelar? Se parcelar, a vida útil do bem o serviço comprado deve ser superior ao período de parcelas. Exemplo: Se o bem o serviço durar 3 (três) meses, parcele em até 2 (duas) vezes.
Evite parcelar a fatura do cartão. A taxa de juros por parcelar a fatura do cartão de crédito está entre as maiores do mercado financeiro. Para evitar parcelar a fatura, siga as recomendações anteriores!
O cartão de crédito é uma ferramenta muito útil para efetuar pagamentos, porém, deve ser utilizado com muita cautela! Se cair no “canto da sereia” das emissoras dos cartões, acabará de endividando!
SEU BEM-ESTAR FINANCEIRO É O NOSSO PLANO!
--- Silvio Bianchi é Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Contador Público, Master Coach, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de BEM Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, responsável pelo escritório em São José dos Campos - SP (Vale do Paraíba).
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