Parcelar ou comprar à vista?
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  • Foto do escritorSilvio Bianchi

Parcelar ou comprar à vista?

Atualizado: 4 de fev. de 2021

Entrou na loja, selecionou o item a ser comprado, chega no caixa e lhe fazem àquela pergunta: “como vai pagar, à vista ou parcelado? Você pode parcelar em até ‘N’ vezes sem juros!”. Por um instante, a dúvida bate.


Imagem: Robin Higgins by Pixabay


Passado esse instante de cogitação a resposta mais provável será: “vou parcelar!”, insere o cartão, digita a senha e sai da loja feliz com a sua compra.


Parcelar as compras pareceria ser a prática mais comum, mas, não sei se você sabia, a causa nem sempre é a falta de dinheiro para comprar à vista. A razão principal é ... evitar a dor do pagamento!


Como assim? Eu sempre pago minhas compras! Qual dor estou evitando?


O termo “dor do pagamento” se baseia na sensação de desprazer e sofrimento causada pelo fato de pagar (abrir mão do nosso dinheiro), que ativa as mesmas regiões do cérebro envolvidas no processamento da dor física[1]. É o que sentimos ao pensarmos em nos separar do nosso dinheiro.


Quem gosta de experimentar dor? Poucas pessoas, e isso, para muitos profissionais, é considerado uma doença.


O que fazemos quando experimentamos dor? Fazemos o possível para nos livrar dela ou, ao menos, aliviá-la. Com a dor do pagamento fazemos a mesma coisa: procuramos um alívio, através de estender o intervalo entre que consumimos e pagamos, e, também, prestando menos atenção ao próprio pagamento[2].


O analgésico para aliviar a dor do pagamento

Existe uma fórmula genérica deste analgésico que está disponível em diferentes apresentações, fórmulas, dosagens e custos. O nome desse componente é “dinheiro de terceiros” mais conhecido como crédito.


As apresentações mais comuns são: cartão de crédito, crediário, crédito pessoal, crédito consignado, cheque especial, empréstimos de familiares e amigos, cheque pré-datado e financiamento de casa ou carro.


As dosagens dependem do seu comportamento na praça (“nome limpo”), mas também pode conseguir apesar de seu “mau comportamento” (“nome sujo”).


O custo, também conhecido como taxa de juros, dependerá do seu bom comportamento, frequência de uso, do tempo que o utilizará, dentre outros.

Como este analgésico funciona?

O componente crédito funciona estendendo o prazo entre o momento da compra (consumo) e o pagamento efetivo, aumentando o prazer da compra. Este fato torna seu horizonte financeiro menos claro (as parcelas são ‘pequenas’ e serão pagas no futuro), não precisa pensar se terá que deixar de pagar alguma conta para fazer esta compra (custo de oportunidade reduzido ou nulo) e o trâmite para levar sua compra consiste em digitar quatro números num teclado ou assinar um formulário para receber um crediário (não presta muita atenção no pagamento).


E ainda tem a possibilidade de ganhar ‘pontos’ que trocará por ‘prêmios’ e fornecendo seu CPF pode participar de sorteios e, também, receber de volta uma percentagem de alguns impostos pagos.

Pode causar dependência?

Assim como outros analgésicos, pode criar uma dependência do componente principal (crédito) que levará ao pagamento de juros por um prazo estendido, podendo levar a pessoa ao endividamento crônico e à inadimplência.


Ao dispor de crédito e não se planejarem, as pessoas tendem a fazer compras por impulso (sem avaliar a verdadeira necessidade) para satisfazer desejos do momento, muitas vezes com a firme crença de que no futuro as coisas irão melhorar e a conta será paga.


Quase 8 (oito) em cada 10 (dez) famílias tem dívidas no cartão de crédito, quase 2 (duas) em cada 10 (dez) com carnês/crediários e depois vêm os demais tipos de crédito.


Os impactos da dependência do crédito, junto com a falta de planejamento e o imediatismo são evidentes.


Fonte: CNC – PEIC nov/2020


Pesquisas tem mostrado que no mês de novembro/2020, sessenta e seis porcento (66%) das famílias brasileiras relataram ter dívidas e 11,5% (onze e meio porcento) declararam não ter condições de pagar[3].

Qual a dose certa de crédito?

Assim como com as bebidas com álcool, a recomendação é: use com moderação.

Voltando à pergunta original: Parcelar ou comprar à vista?

Se faz planejamento financeiro, se mantem um adequado controle das suas despesas, se compra o que realmente precisa, se suas despesas totais (incluindo as parcelas das compras anteriores e os financiamentos) são inferiores aos seus rendimentos líquidos, se a vida útil dos bens comprados com parcelas é sensivelmente superior ao prazo de parcelamento, se essa parcela (junto com todas as outras já contratadas) pode ser paga com seu rendimento mensal, se não pode aguardar até juntar o dinheiro e comprar à vista (e com desconto), utilize o crédito e consuma feliz!


Esta matéria é um alerta para aqueles que acreditam que o crédito resolve qualquer consumo. Muito pelo contrário! Em certas condições (como as descritas no parágrafo anterior) o crédito pode ser utilizado, mas com moderação.


O BEM Financeiro criou o programa BEM Agora para ajudar as pessoas a retomarem o controle da sua vida financeira. Para conhecer mais sobre nosso programa, clique sobre o BEM Agora.


Planeje – Gaste menos do que recebe – Consuma feliz! Seu BEM é o nosso plano!


[1] Dan Ariely e Jeff Kreisler, A Psicologia do Dinheiro. Ed. Sextante, 2019. [2] Dan Ariely e Jeff Kreisler, A Psicologia do Dinheiro. Ed. Sextante, 2019. [3] CNC, PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) ao mês de novembro/2020. http://cnc.org.br/editorias/economia/pesquisas/pesquisa-de-endividamento-e-inadimplencia-do-consumidor-peic-6 (acessado no dia 30/dez/2020).

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Silvio Bianchi é Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Contador Público, Master Coach, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de BEM Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, responsável pelo escritório de São José dos Campos e Vale do Paraíba.

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