O tema do conto do vigário tem muitas abordagens e hoje vamos conversar um pouco sobre a influência do “vigário” no orçamento pessoal. Se não leu a matéria “O conto do vigário”, recomendo fazer uma paradinha (igual que as de algumas baterias durante os desfiles de carnaval) e ler antes de continuar.
Um case para contextualizar Durante um atendimento, alcançamos o momento de abordar o orçamento familiar. Previamente tínhamos conversado sobre os valores (o que é importante para a pessoa) e o casal destacou: família, educação, saúde, segurança e amizade/relacionamentos.
O grupo familiar estava composto pelo casal mais 2 filhos (8 e 11 anos de idade).
Eis como a família gastava seus rendimentos mensais: - Parcelas por compras no cartão: 30% - Parcela casa: 14% - Parcela carro: 8% - Empréstimo consignado: 8% - Supermercado/Açougue: 20% - Água, Luz, Telefone: 4% - Educação e úteis escolares: 2% - Saúde: --- - Farmácia: 3% - Combustível: 2% - Lazer: 9% As dívidas (IPTU, IPVA, parcelas a pagar da casa, parcelas a pagar do carro, cartão de crédito, empréstimo de familiar), equivaliam a 24 salários líquidos. Sem reserva nenhuma para enfrentar uma situação inesperada. Para bancar as despesas da família o casal fica fora de casa das 8h até às 20h. Os pais da esposa, que moram do lado, cuidam das crianças quando não estão na escola. Aos sábados, geralmente as crianças visitam aos outros avôs, que moram na mesma cidade, assim os pais aproveitam para descansar um pouco.
O que as despesas mostram? As despesas mostram o que realmente é importante para cada um, os valores verdadeiros (e não estamos falando de dinheiro ...).
Vejamos o que é importante para este casal:
Resulta evidente a discrepância entre os valores declarados e a realidade. 60% das despesas são para pagar dívidas, onde o cartão de crédito representa 30%. Saúde, é com o SUS; Educação é com o município; Segurança, sem reserva nenhuma para emergências; Família, o dia a dia é responsabilidade dos avôs, pois eles estão correndo atrás de recursos para bancar as despesas.
Quem é o burro que decide? Na história do conto do vigário, para evitar um conflito, os dois vigários de Ouro Preto deixaram ao burro decidir por eles (a igreja para a qual ele se dirigisse ficaria com a imagem).
No dia a dia, podemos identificar um monte de “burros”. A propaganda, o status, os amigos, a sociedade, os colegas de trabalho, os vizinhos do bairro, os amigos dos filhos, a família, e por aí vamos. Parece ser que somos simples marionetes a mercê da mão que, num certo momento, puxa as cordas. E são tantas mãos!
Exemplo 1: O casal está iniciando uma amizade com novos vizinhos que após comprar a casa à vista fizeram baita reforma e compraram carro novo. Na hora de convida-os a jantar em casa, a comida deve ser de um cheff badalado e vinhos caros, mesmo que orçamento não alcance ...
Exemplo 2: Os amiguinhos dos filhos ganharam um celular novo no último natal, portanto eles não podem continuar utilizando os celulares “velhos”, herdados de seus pais que trocaram seus aparelhos no ano anterior ...
E o nome do burro é ... Se pensou que o burro se chama “mamai” ou “papai” está equivocado. O nome do burro é: “falta de objetivos próprios”, de aqueles objetivos que arrepiam ao pensar neles, pois são muito importantes!
Não adianta falar frases bonitas como “a família é o mais importante para mim” e você é uma visita em casa, ou “alimentação saudável é a base para uma vida com qualidade”, mas consume comidas industrializadas porque “é mais rápido e estou muito cansado”.
Ter objetivos claros, junto com um controle dos recursos (dinheiro, tempo, alimentos, ...), facilita muito ao dizer não para àquelas coisas que não batem com seus reais propósitos. Assim, “o vigário que mora dentro de nós” não terá argumentos para nos convencer para “deixar Cao burro decidir”.
A trilha do BEM Na maratona do nosso dia a dia, é muito importante saber nosso destino, conhecer o caminho, planejar o percurso e gerenciar os recursos para poder chegar na meta. Sendo assim, se o “vigário” indicar ao burro como solução, que seja para montá-lo e dirigi-lo até nossa meta.
Algumas estratégias para virar um “cavaleiro do BEM”:
Determine seus objetivos. Quais são seus anseios de curto, médio e longo prazo? Falo de anseios e não de desejos, porque devem ser aqueles objetivos que fazem você sair da cama todos os dias.
Saiba quais são seus recursos. Não só os financeiros (muito importantes), mas suas habilidades, as habilidades dos que estão perto de você (cônjuge, filhos, amigos “do peito”, familiares, profissionais, ...), o tempo (sim! As horas, minutos e segundos também são um recurso). Não considere ao crédito, até abordarmos este item numa próxima matéria, como um recurso.
Planeje como alcançar seus objetivos. Quando saímos de casa para qualquer destino, pensamos qual será o caminho melhor, avaliamos as opções e decidimos (geralmente, não sempre) tentando minimizar o custo, minimizar o tempo necessário para se deslocar e maximizar o conforto.
Gerencie seus recursos focando nos seus objetivos. Se estivesse participando de uma maratona, sairia correndo disparado desde a largada até a chegada ou dosaria seus esforços para chegar na meta segundo seus planos (alcançar a meta, ficar entre os 50 melhores, ficar entre os três melhores ou ser quem triunfa na prova)?
Como falei antes, nossa vida é semelhante a uma maratona e a necessidade de gerenciar os recursos para alcançar as metas é a mesma.
Aplicar estas estratégias garantem a segurança que montaremos o burro e colocaremos a cenoura à sua frente (nossos objetivos) para estimulá-lo a se dirigir para onde queremos.
--- Silvio Bianchi é Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Master Coach, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de Bem Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, responsável pelo escritório de São José dos Campos.
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