Por ser usado sem controle, o crédito consignado passou de “anjinho” a “diabinho”. Quando o divulgaram, esqueceram de colocar a legenda “use com moderação".
No início, sua chegada foi muito bem-vinda. Frente a empréstimos com taxas de juro elevadas devido aos riscos de inadimplência, a concessão de um crédito com a garantia do salário e descontado em folha diminuiu sensivelmente esse risco e, portanto, os empréstimos foram com uma taxa menor.
As empresas acharam que esse crédito mais barato ajudaria a melhorar o bem-estar dos seus colaboradores e, em grande maioria, aderiram a esta possibilidade. Porém, com o passar do tempo, o benefício se transformou em dor de cabeça para os departamentos de RH, pois o endividamento dos colaboradores se elevou, os descontos em folha aumentaram e os colaboradores pedindo auxílio também.
A história do Miguel
Miguel (nome fictício) trabalha na mesma empresa há 14 anos. Iniciou sua carreira como estagiário e, resultado do seu comprometimento, estudos e bom desempenho, foi efetivado e alcançou a posição de supervisor de equipe de produção. Seu salário atual é 10 vezes superior ao seu salário inicial.
Seu orçamento básico (moradia, alimentação, água, luz, telefone, internet, educação, farmácia, transporte) representa 50% dos seus rendimentos; a fatura do cartão de crédito (compras parceladas mais compras do mês) representa 30% do salário; os financiamentos (carro, consignados más empréstimo pessoal) representam 30% do salário. O cartão é utilizado para pagar despesas supérfluas (saídas com a família, lanches por aplicativo e compras parceladas).
As contas não fecham. As despesas representam 110% do seu salário!
Todo começou com o cartão de crédito! Na medida que foi sendo promovido, seu salário foi aumentando, assim como suas despesas. O limite de seu cartão de crédito também aumentou, porém de forma mais rápida. Atualmente, seu limite de crédito representa 5 vezes seu salário líquido.
Seu primer contato com o crédito consignado foi consequência de ter “estourado” o limite do cartão de crédito. O descontrole nas compras o levou a utilizar todo o limite do cartão de crédito que, naquele momento, chegava a quase três vezes seu salário líquido. Dado que o cartão de crédito era utilizado para fechar as contas do mês e a taxa de juros para parcelar a fatura era absurdamente elevada, decidiu contratar um empréstimo consignado para poder pagar as seguintes duas faturas na sua totalidade pagando as parcelas do empréstimo com uma taxa de juros menor.
Miguel ficou feliz por ter resolvido a situação com o empréstimo consignado e, para melhorar a situação, o banco o “ajudou” elevando o limite do cartão de crédito. Agora o limite representa 4 vezes seu salário líquido.
Passado o susto, Miguel continuou no mesmo padrão de despesas e, devido a ter recebido uma promoção com aumento de salário, conseguiu contratar um segundo crédito consignado. A dependência do crédito estava quase instalada!
Após a promoção, Miguel ficou muito confiante e elevou um pouco mais seu padrão de consumo. Resultado, ultrapassou o limite de crédito mais uma vez, mas, nesta vez, precisou contratar um empréstimo pessoal para resolver a situação, pagando uma taxa de juros maior.
A partir desse momento, a dependência do crédito foi total. Miguel aguardava chegar a cancelar o limite mínimo de seus empréstimos para poder fazer uma renovação.
Também precisou utilizar parte do cheque especial.
Olhando para atrás, Miguel sentia saudades de quando era estagiário. Ao receber um salário muito menor, ele se organizava mais, chegava no final do mês sem sufocos e não tinha dívidas.
Causas da dor de cabeça
Abuso / Dependência do anestésico[1]. O cartão funciona como anestésico da “dor do pagamento”. Devido a que ao pagar com o cartão (débito ou crédito) se separa o momento da compra (satisfação no momento presente) do momento do pagamento (dor no futuro) e a que, para o nosso cérebro, esse futuro é distante, difuso e não tem vínculo afetivo. O resultado é que estamos jogando os pagamentos numa espécie de “buraco negro”. Esse fato provoca o esquecimento de compras passadas e cria espaço para novas compras.
Consumo sem controle (compras por impulso). O excesso de confiança por estar progredindo na sua carreira, somado à facilidade para aceder ao crédito e à falta de planejamento, levam ao descontrole no consumo e, em consequência, ao endividamento.
Falta de planejamento financeiro. Um planejamento financeiro mínimo demanda conhecer os rendimentos mensais líquidos, as despesas (básicas e supérfluas), as dívidas já contraídas (financiamentos e parcelamentos) e a ter uma reserva para despesas imprevistas. Tudo isto no contexto de ter determinado objetivos (metas/sonhos) de curto, médio e longo prazo.
Não poder dizer não. Miguel não se caracteriza por ser uma pessoa que, no intuito de agradar a todos, nunca diz não. Sua dificuldade está em que ao não ter planos/objetivos de curto, médio e longo prazo, não existe nada importante que lhe ajude a desistir de uma satisfação imediata. A isso ele não pode dizer não!
Como evitar a dor de cabeça
Ter objetivos de curto, médio e longo prazo. Uma boa defesa contra as tentações imediatas é ter objetivos importantes. Esses objetivos ajudam no momento de desistir de uma satisfação imediata em prol de uma meta pessoal futura mais importante.
Organizar o orçamento mensal. Para ter um orçamento equilibrado, não importa o montante dos rendimentos financeiros, mas como OS gasta. Portanto, além de conhecer os rendimentos líquidos, também é importante adequar as despesas a esses rendimentos. O objetivo é de que a conta: RENDIMENTOS - RESERVA - PARCELAS JÁ COMPROMETIDAS - DESPESAS, feche no positivo.
Crédito: utilizar com moderação. É muito importante destacar que o crédito, como ferramenta financeira para adquirir bens e serviços, não é ruim. As dificuldades aparecem ao utilizar esta ferramenta em qualquer situação, principalmente, com a justificativa: “para facilitar a compra de...”.
Eduque-se financeiramente. Conhecer as ferramentas financeiras (cheque, cartão, Pix, financiamentos, cheque especial etc.), como se calculam e aplicam as taxas de juros, os diferentes contratos de empréstimo, como investir seu dinheiro, é importante, mas não é suficiente. Tudo isto faz parte da informação financeira. Ao se educar financeiramente se aprende a desenvolver estratégias financeiras adequadas para utilizar seus rendimentos e, também, o crédito, para que se evitem as “dores de cabeça por causa das dívidas”.
As facilidades oferecidas pelas organizações financeiras para contratar créditos, somadas ao marketing e propagandas agressivas das empresas vendedoras de bens e serviços, e à falta de educação financeira das pessoas, levou a uma utilização desenfreada do crédito.
Compras sem controle somado ao crédito fácil, levaram as pessoas a gastarem dinheiro que não tinham para comprar coisas que não necessitavam. Essa combinação leva, sem dúvida, ao endividamento, às dores de cabeça, insônia, estresse, problemas de saúde física e mental.
A melhor receita para evitar a dor de cabeça financeira: Tenha objetivos, organize seu orçamento, gaste menos do que recebe, crie uma reserva para despesas inesperadas e consuma feliz!
Seu bem-estar financeiro é o nosso plano!
--- Silvio Bianchi é Contador Público, Pós-graduado em Educação e Coaching Financeiro, Master Coach, Coach Executivo e de Carreira, Coach Financeiro, Treinador e Palestrante. Cofundador de Bem Financeiro – Desenvolvimento em Finanças, é responsável pelo escritório em São José dos Campos (SP).
[1] Maiores informações sobre o “anestésico” estão disponíveis na matéria: “Está preparado para usar o crédito?”, no Blog do BEM.
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